sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ANJOS E DEMÔNIOS


image by Google
..


O título desta crônica tem uma palavra um tanto quanto “pesada”, mas é proposital. Quero chamar a atenção dos irresponsáveis de plantão. Estamos caminhando primavera adentro e logo, logo, o verão estará batendo à porta. A quantidade de pessoas que deixam seus lares, na intenção de passar as férias em outra localidade que não a sua, é imensa, e os destinos preferidos da maioria dessas pessoas são o litoral e, em menor proporção, as estâncias hidrominerais ou algum hotel-fazenda. Até aí, nada demais, não fosse a transformação de personalidade que acomete alguns indivíduos. E diga-se, transformação extremamente ruim.
Já residi no litoral, por pouco tempo, mas tive a oportunidade de transitar entre o inverno e o verão, e posso atestar que a mudança entre uma estação e outra é algo aterrador. Nunca presenciei tanta paz e falta do que fazer, quanto nesse período de inverno em que morei próximo ao mar. Ruas tranquilas, pessoas se deslocando para o trabalho em suas bicicletas, supermercados vazios, praias desertas e limpas e as ruas sem nenhum papel voando sobre os carros. Já no verão...
Meu pai me ensinou que “não se faz aos outros o que você não quer que os outros façam à você”. Sempre segui essa premissa, e procuro viver em harmonia com todos a minha volta, no entanto, algumas pessoas perdem completamente a elegância, o bom senso e os bons modos (perdem a educação e a vergonha na cara, para falar claramente) quando estão longe de seus lares. Conheço pessoas que mantêm suas casas como verdadeiros castelos, onde se vê tudo limpo, arrumado, com grama cortada e sem nenhum lixo jogado pelos cantos. O silêncio é sempre algo exigido por essas pessoas, e são calmas, tanto no trânsito quanto em outros locais onde existam mais pessoas dividindo o ambiente. Por que, então, quando estão longe de casa, se tornam baderneiros? Jogam tudo pelos cantos, não se importam em preservar limpa a cidade dos outros, estacionam nas calçadas, viram selvagens em lojas e supermercados, enfim, parece que um capetinha fica espetando suas bundas e dizendo: “--Vai lá, este não é o seu lar. Para que manter o respeito?”.
Não digo que todas as pessoas ajam dessa maneira, evidente. Mas muitos são assim ou até piores. E os adolescentes? Esses mesmos, que já fazem arruaça no seu dia-a-dia quando estão em seus locais de origem, ao chegarem ao litoral para as férias, ficam ainda piores. Acham que são os donos do lugar e que todos devem se dobrar ao seu anarquismo barato e jeito irresponsável de viver. Bagunça? Gritaria? Baderna? Música alta? Isso tudo é o de menor importância frente ao que eles e muitos adultos fazem. Cometem verdadeiros atos de irresponsabilidade, como fazer das ruas um palco de guerra automobilística, por exemplo. Quem conhece o litoral em época de veraneio, sabe muito bem disso. Os “rachas” com automóveis são comuns, assim como andar na contramão, ou com alguém pendurado para fora da janela do veículo, fazer “cavalo de pau” e subir pelas calçadas em alta velocidade. Andar sem cinto de segurança? Bom...

image by Google
E as irresponsabilidades não param por aí. Existem os pichadores, os depredadores de patrimônio alheio (telefones públicos e lixeiras são os que mais sofrem), os destruidores  de   sacos de lixo que estão aguardando os recolhedores desse material, os brigões (bêbedos ou não), os arruaceiros, os que acham que as ruas são banheiros públicos, entre  tantos    outros. Um dos tipos de irresponsáveis que mais incomodam com seus atos, inclusive um dos atos mais torpes e criminosos entre todos os  que citei, são aqueles que  quebram garrafas de vidro na areia da praia. Não é incomum a areia encobrir os cacos e transformar isso numa verdadeira armadilha. Quantas pessoas perdem suas férias ao  serem mutiladas por uma irresponsabilidade dessas?
Como citei alguns parágrafos atrás, meus dias de inverno no litoral chegaram a ser maçantes, mas era tudo calmo, de uma paz que pouco se vê. Já no verão, permaneci uma semana e, sem aguentar, subi a serra e voltei para meu cotidiano metropolitano. Mas meu sossego não durou muito, e me obriguei a voltar para o litoral e passar o restante da temporada.
Não se engane, achando que isso acontece somente no litoral. O desrespeito ao próximo e à cidade alheia é comum também no campo. Pode acontecer em menor escala, mas acontece. Muitas pessoas respeitam a “casa dos outros” até mais do que a sua, mas, por vezes, seus filhos não o fazem. Quantos adolescentes, verdadeiros santos na presença dos pais, acabam se transformando em baderneiros da pior cepa quando distantes de casa e, consequentemente, longe dos olhos de seus responsáveis legais?
Respeito é uma coisa boa, e todos gostam. Mas, se você se enquadra entre os irresponsáveis descritos nas linhas acima e quer ser respeitado, então comece a respeitar o próximo e, principalmente, a cidade onde ele mora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário